A RETÓRICA PERIGOSA DE ROMEU ZEMA: O DISCURSO QUE COISIFICA PESSOAS
O governador do Estado de Minas Gerais, Romeu Zema, em recente entrevista, declarou o seguinte:
“Se alguém deixa o carro estacionado em um lugar proibido, o carro não é guinchado? Agora vai ficar alguém na porta de um comerciante que paga imposto, que gera emprego, fazendo ali sujeira, atrapalhando, ameaçando cliente. Ninguém pode fazer nada? Na minha opinião, nós devíamos ter uma lei, o seguinte: proibido dormir em via pública.” [https://www.youtube.com/shorts/InwB-owVcTI].
O governador comparou pessoas em situação de rua a carros estacionados irregularmente. Para ele, assim como um veículo é guinchado, deveria existir uma lei que proibisse dormir em via pública.
A fala não é apenas uma opinião isolada: traduz a lógica de tratar pessoas como objetos incômodos, passíveis de remoção da área urbana. Quando se coisifica um ser humano, naturaliza-se a ideia de que ela pode ser descartada.
É evidente que sujeira ou ameaça em frente a estabelecimentos comerciais deve ser enfrentada, mas a legislação já prevê soluções quando há crime ou infração. O que não se pode admitir é transformar a pobreza em caso de polícia e a exclusão social em mera questão de “limpeza” das cidades.
A história nos oferece exemplos sombrios: assim se construiu o imaginário nazista, que transformou pessoas em ‘cargas’ a serem transportadas e eliminadas. E assim se repete, em nosso tempo, na violência cotidiana que mata ucranianos, palestinos, sudaneses, congoleses e tantos outros povos africanos esquecidos pelo noticiário.
As autoridades públicas têm o dever de pensar em políticas dignas, que respeitem a condição humana. O desafio não é eliminar pessoas das ruas, mas criar caminhos reais de inclusão, moradia e dignidade.
Comparar pessoas em situação de rua a carros estacionados não é metáfora: é desumanização.